Pandemia da covid-19, estudantes fadados a aulas online, em frente a computadores, tablets ou celulares. Essa foi a realidade de muitos que enfrentaram os desafios da combinação entre educação e tecnologia. Professores tiveram de aprender a usar novas ferramentas, alunos tiveram de se adaptar ao Google Classroom e aulas cheias de quadradinhos na tela.
Mas não é de hoje que essa é a realidade para muitos que já tinham optado pelo ensino a distância. Alguns dos motivos: comodidade e acesso, além da possibilidade de fazer seu próprio horário e administrar a rotina que por vezes envolve uma jornada dupla ou tripla.
E esse movimento já vinha sendo observado no Censo da Educação Superior. Pesquisa realizada desde 2009 pelo Inep, mostrou isso. Desde aquele ano já se observava um aumento no número de matrículas EAD em faculdades privadas do país.
A novidade vem a partir de 2016, quando a quantidade de matrículas em cursos presenciais começa a diminuir. Os dados mais recentes, de 2019, já apresentam uma proporção mais equilibrada. Mostrou que 35% das matrículas no Ensino Superior privado são na modalidade EAD, enquanto 65% delas, na presencial.
O que você verá neste artigo:
Laços mais estreitos
É aí que entra a educação e a tecnologia começa a dialogar ainda mais. Em um sistema totalmente remoto, é muito importante que alunos e professores tenham domínio das ferramentas disponíveis para ajudar nesse processo.
Mas isso ainda é utopia no país em que muitos não têm acesso à rede de internet, a chamada exclusão digital. E esse tipo de exclusão está relacionado a níveis de educação e de renda.
Por isso, especialistas defendem a inclusão de tecnologias no ambiente escolar alinhadas com um projeto político-pedagógico “comprometido com as reais necessidades da população”. Esse é o caso de Antonio Flavio Barbosa Moreira e Sonia Kramer.
No artigo Contemporaneidade, educação e tecnologia, eles exploram as possibilidades de uma educação tecnológica como opressiva ou emancipatória. “Para que se minimize este paradoxo, é necessário que a função da educação e o papel da mídia em nossa sociedade sejam constantemente reavaliados de forma crítica”, explicam.
Ou seja: a introdução da tecnologia em ambientes educativos deve estar relacionada a um pensamento crítico e a novas formas de ensinar. Isso para que contextualizem o conhecimento e as informações que agora são tão facilmente encontradas. Os caminhos para isso são pensados e construídos todos os dias, em salas de aula físicas e virtuais Brasil adentro.
Educação e tecnologia: conhecimento que se constrói
Uma resposta para o desafio de engajar os alunos em aulas remotas são as chamadas metodologias ativas. Elas desafiam o conceito de ensino em que o professor é detentor do conhecimento e deve, portanto, transmiti-lo ao estudante. No processo de aprendizagem das metodologias ativas, o aluno constrói o conhecimento junto ao professor, que exerce um papel de mediador nesse contexto.
Existem diversas metodologias ativas que têm ganhado espaço. A sala de aula invertida, a aprendizagem por resolução de problemas e a inserção da cultura maker no processo educativo são exemplos.
Este último convida os estudantes a criar soluções para problemas do presente de forma colaborativa. Assim, dentre as metodologias ativas, é a que mais se aproveita da tecnologia. É, também, a que teve um crescimento considerável durante a pandemia.
Os números provam
Segundo a 1ª Pesquisa Nacional do Impacto do Ensino Maker na Educação, realizada em 2019 pela organização Nave à Vela, 50% das escolas que utilizaram a ferramenta de ensino observaram um maior engajamento dos seus alunos. Além disso, 77,5% notaram uma maior capacidade socioeducacional dos estudantes.
Mas algumas questões devem ser consideradas. Além do uso da tecnologia para colaborar num novo tipo de aprendizado, é importante que a escola ensine o uso responsável. Essa é a bandeira de alguns grupos que defendem a educação midiática, como o projeto Educamídia, do Instituto Palavra Aberta.
O conceito é, segundo a própria organização, de criar “habilidades para acessar, analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos — dos impressos aos digitais”.
Em um mundo em que os estudantes estão em constante contato com tecnologia e excesso de informações, posts, fake news e memes, falta consciência. Principalmente sobre como utilizar essas ferramentas de forma responsável, crítica e autônoma. Para isso, a iniciativa disponibiliza oficinas e planos de aula a professores, além de artigos e materiais didáticos.
O caso dos museus
Outro espaço educativo que teve de se adaptar à pandemia foram os museus e espaços culturais em geral. Eventos, palestras e bate-papos ganharam uma nova forma de ser e de continuar acontecendo no contexto digital. O público foi convidado a consumir esse tipo de conteúdo a partir da internet, com lives, conteúdos digitais e, é claro, as exposições virtuais.
Alguns dos principais museus do mundo abriram essa possibilidade, alargando as fronteiras geográficas de seus visitantes. É o caso do Museu do Prado, localizado em Madrid, Espanha. Todos os dias em seu Instagram (@museoprado), realiza lives com especialistas explicando algumas de suas principais obras.
O Museu do Louvre (@museelouvre), em Paris, na França, também não fica para trás. Com alguns dos quadros mais famosos do mundo, como a Mona Lisa, o espaço conta com tecnologia de realidade virtual. Isso para fazer você se sentir lá dentro, acompanhando tudo de pertinho. Em terras brasileiras, o MASP (@masp), localizado em São Paulo, oferece o mesmo para quem quiser conferir obras como as da famosa Tarsila do Amaral.
E esse tipo de experiência não se limita apenas aos museus de arte. O Museu da NASA, em Virgínia, nos Estados Unidos, oferece imagens impressionantes em 360 graus do interior de suas espaçonaves.
No Brasil, o Museu do Catavento criou a série Por Dentro do Catavento, com 22 episódios que mostram diferentes exposições do museu. E o melhor: esse conteúdo, que democratiza o conhecimento e a cultura, está disponível para qualquer um, para acessar do sofá de casa.