Ingressar na faculdade costuma ser um momento de euforia e novidades. Festas, novas amizades, conhecimento e a possibilidade de se preparar para o mercado de trabalho. Por outro lado, pode ser também um período de desgaste emocional. Provas, trabalhos, pressão por notas, dificuldades de relacionamento e o estágio obrigatório: essas são algumas das razões que levam os estudantes ao esgotamento. Por isso, é fundamental aprender como cuidar da saúde mental durante a faculdade.
Em “O futuro de uma Ilusão”, Sigmund Freud diz que é preciso contar com o fato de que em todos os homens há tendências destrutivas.
Ou seja, antissociais e anticulturais, que em um número grande de pessoas são fortes o bastante para determinar seu comportamento na sociedade humana.
O que você verá neste artigo:
Conheça o perfil dos estudantes com dificuldades
Em 2021, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou o V Perfil Socioeconômico dos Universitários.
Segundo o estudo, problemas emocionais ou no campo da saúde mental têm impacto relevante no desempenho acadêmico.
No total, 23,7% do público pesquisado têm dificuldades para estudar devido a esses problemas.
Esses estudantes, em sua maioria, também têm um perfil predominante. A seguir, apresentamos o perfil mais recorrente de estudantes nessa situação:
- pessoas do sexo feminino (28,6%)
- pessoas do sexo masculino (17,7%)
- pessoas brancas (26,2%)
- indígenas aldeadas (25,1%)
- pretas não quilombolas (24,7%)
Conheça os problemas emocionais predominantes
O estudo da Andifes traz ainda outras informações relevantes para quem deseja saber mais sobre a saúde mental durante a faculdade.
A pesquisa fez um levantamento e traçou as variáveis que mais impactam no desempenho acadêmico.
Entre os estudantes com dificuldades emocionais que interferem na vida acadêmica, 87,2%, estão na região Sudeste; 85,3% na região Sul; 82,2% no Centro-Oeste; 81,4% no do Nordeste; e, por fim, 78,4% no Norte.
Abaixo, listamos os “Problemas ou sensações de” que mais interferem na vida acadêmica dos graduandos (em %):
- Dificuldades emocionais – 83,5
- Ansiedade – 63,6
- Desânimo/desmotivação – 45,6
- Insônia/alterações no sono – 32,7
- Desamparo/desespero – 28,2
- Solidão – 23,5
- Tristeza persistente – 22,9
- Desatenção/desorientação/confusão mental – 22,1
- Timidez excessiva – 16,2
- Medo/pânico – 13,5
- Problemas alimentares – 12,3
- Ideia de morte -10,8
- Pensamento suicida – 8,5
Reflita sobre o modelo de ensino atual
Em nossa sociedade, o modelo de ensino dá forte ênfase à formação técnica e científica. Por outro lado, acaba, consequentemente, deixando a desejar com relação aos aspectos psicológicos.
O estímulo à competição entre os estudantes e o estresse resultante de avaliações, trabalhos e práticas pouco humanizadas acaba acarretando em elevado nível de estresse.
No artigo “Saúde mental no contexto universitário: desafios e práticas”, os pesquisadores Karine Vanessa Perez, Luciana Gisele Brun, Carlos Manoel Lopes Rodrigues refletiram sobre o tema.
Entre outros, eles defenderam a importância de se questionar sobre como resistir e produzir outros modos de existir no contexto universitário.
A ideia seria não obrigar os atores envolvidos a se sujeitar a uma lógica perversa. O objetivo, segundo os autores, seria não permitir que os estudantes sucumbam “ao adoecimento coletivo que este contexto social os tem empurrado”.
Faça parte de redes de apoio
Além das pressões inerentes ao modelo de ensino, podemos destacar que a formação universitária é um momento de mudanças. Os estudantes estão, de modo geral, em transição da vida estudantil para a vida profissional, com todos os desgastes e responsabilidades resultantes.
Consequentemente, é natural que experimentem sentimentos de insegurança e ansiedade. Nesse contexto, estudantes que ingressam em faculdades geograficamente distantes do seu domicílio de origem podem apresentar dificuldade maior.
Isso acontece porque o afastamento físico de amigos e familiares tende a incorrrm em isolamento social, agravando estágios de depressão.
Por essa razão, o acesso a redes de apoio durante a faculdade é importante.
Amigos que se reúnem para andar de bicicleta, participar de um grupo de leitura ou desenvolver alguma prática espiritual, por exemplo. Não importa qual seja a finalidade da rede de apoio: ter com quem contar é fundamental para todo e qualquer estudante.
Aprenda a dizer “não” e cuide da sua mente
Muitas vezes o esgotamento mental é percebido como um sinal de fraqueza. No entanto, saber dizer “não”, sempre que não for possível, e suportar a pressão do contexto, é extremamente necessário. E, longe de fraqueza, representa maturidade.
Por outro lado, é possível que colegas de trabalho e estudo entendam esse comportamento como preguiça ou negligência.
Nessas horas, a opinião dos outros deve ser deixada de lado.
Trate a saúde mental com respeito
Apesar da importância do tema, nem todos tratam a saúde mental da forma como deveriam. Ou seja, por vezes, o sofrimento e a depressão no contexto acadêmico são tratados de forma leviana.
Há até mesmo quem considere frescura ou chilique situações graves de estresse.
Esses reagirão com deboche, por considerar que o estudante é um privilegiado sem direito a reclamar, enquanto milhões de jovens sequer conseguem ingressar em uma universidade.
Há também quem perceba o sofrimento mental como algo inerente ao artista ou ao gênio, sem valorizar como real o discurso de sofrimento exposto pelo estudante.
Apesar disso tudo, os graduandos devem valorizar suas próprias queixas e procurar ajuda profissional.
Se possível, recomenda-se reunir com colegas, presencialmente ou virtualmente, para conversar sobre os sentimentos. Rodas de conversa são uma boa estratégia.
Perceber repetições nos padrões de dor e sofrimento permite identificar mais facilmente o que está acontecendo. E ainda ajuda a perceber a necessidade de ajuda profissional. Afinal, ninguém precisa conviver eternamente com ansiedade e depressão.
Conheça a relação entre arte e saúde mental
Por fim, a expressão artística pode ser considerada uma das melhores formas de ressignificar os sofrimentos psíquicos, ou mesmo de sublimação.
Para entender melhor o que isso significa, recomendamos a leitura do texto, “Sublimação: laço entre arte e clínica”, de Clarissa Metzger.
No artigo, a autora reflete justamente a respeito da vocação clínica do conceito de sublimação e sua articulação com as artes. Ela faz isso, principalmente, com base nas definições de sublimação propostas por Freud e por Lacan.
Segundo Clarissa, há produções artísticas que evidenciam, de modo quase didático, a maneira como as pessoas se organizam em torno do vazio.
“É como interface entre arte e psicanálise que proponho a sublimação como conceito que faz laço entre arte e clínica”, concluiu.
Expresse-se por meio da arte para vencer as dificuldades
Segundo um estudo publicado pelo Journal of Epidemiology and Community Health, as artes têm sido utilizadas, muitas vezes, como meio de promoção da saúde em intervenções terapêuticas.
Esse uso das artes na promoção de objetivos sociais, inclusive, não é novo. Desde o final dos anos 1960, artistas e organizações se engajaram no que foi denominado “artes comunitárias”.
Apesar disso, ainda faltam evidências. Na ausência de avaliação, segundo os autores da pesquisa, sempre haverá incertezas sobre os benefícios e investimentos escassos.
Certamente, uma abordagem científica para avaliar as artes poderia ajudar a mover o debate sobre o impacto das artes na saúde para além da anedota e da opinião.
Por via das dúvidas, continuaremos recorrendo às manifestações artísticas como, por exemplo, a música, pintura, artesanato e escrita para superar as aflições de nossos tempos. Inclusive durante a vida acadêmica.
Afinal, como ensinou Freud, a arte oferece satisfações substitutivas para as mais antigas renúncias culturais. Na pior (ou melhor) das hipóteses, intensifica os sentimento de identificação e serve à satisfação narcísica.
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