A palavra mindfulness é razoavelmente recente em nosso vocabulário, mas muito antiga. Sua origem remonta há cerca de 2.500 anos. Trata-se uma prática budista que leva o nome de SATI e pode ser traduzida como a “prática da atenção plena” ou apenas “meditação focada”. Em outras palavras, uma meditação (e até mesmo uma postura diante da vida) que pode ajudar os estudantes durante a trajetória acadêmica. Saiba como o mindfulness pode ajudar você na faculdade.
No Brasil, o mindfulness tem sido objeto de estudos científicos. Em 2018, por exemplo, duas pesquisadoras publicaram um artigo sobre a meditação focada.
Estamos falando de Marina Xavier Carpena e Carolina Baptista Menezes, que analisaram estudantes universitários.
Elas decidiram investigar os alunos que estavam estudando graduação e pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul.
As pesquisadoras então optaram por incluir no estudo apenas os alunos que relataram não terem experiência prévia com meditação ou yoga.
No total, foram selecionados 64 estudantes, entre 20 e 40 anos. Os sortudos foram presenteados com seis encontros semanais consecutivos com uma duração aproximada de uma hora e quinze minutos.
O que você verá neste artigo:
Entenda a relação entre faculdade e estresse
Não há dúvidas de que o período universitário é extremamente desgastante, né?
E isso acontece não apenas em razão do excesso de trabalhos e provas, mas, acima de tudo, porque se dá em um momento de profundas transformações.
No artigo “Transtornos mentais auto-referidos em estudantes universitários”, outros dois pesquisadores publicaram seus estudos sobre o tema.
Marly Coelho Carvalho Neves e Paulo Dalgalarrondo queriam verificar a prevalência de transtornos mentais entre estudantes de graduação.
Eles concluíram que é justamente no início da vida adulta, particularmente no período universitário, que muitos dos transtornos mentais têm maior chance de surgir pela primeira vez.
O resultado foi surpreendentemente preocupante: 58% dos alunos investigados têm ao menos um tipo de transtorno mental, sendo 69% em mulheres e 45% em homens.
Ou seja: o estudo também revelou um forte recorte de gênero. Estudantes do gênero feminino apresentam mais queixas de sofrimento mental e maiores dificuldades psicossociais.
Conheça as principais condições estressoras
No estudo sobre transtornos mentais na universidade, os pesquisadores conseguiram levantar os fatores associados à presença de transtornos mentais.
Abaixo, listamos os principais, em ordem de prevalência:
- relacionamento interpessoal
- falta de apoio parental
- sentimento de discriminação
- problemas de uso de drogas na família
Em outras palavras, essas são as principais “condições estressoras”. Ou seja, situações que influenciam o surgimento de problemas mentais ou mesmo sua manutenção e até agravamento.
O que é meditação mindfulness?
A meditação mindfulness é muito simples e tem sido aplicada com sucesso.
De modo geral, trata-se de uma meditação que leva o indivíduo a estar plenamente concentrado no momento atual de sua existência.
Com isso, aprende-se a viver momento a momento sem se preocupar com as lembranças do passado e preocupação com o futuro.
Mesmo quando esses pensamentos surgem, eles podem ser aceitos sem julgamento.
O resultado pode ser percebido no bem estar geral das pessoas que praticam.
Quer saber como realizar a meditação? Faça uma meditação mindfulness guiada e incorpore em seu dia a dia.
Como ela funciona?
De forma geral, mindfulness compreende uma habilidade de mudarmos o modo como nos relacionamos, com foco em sentimentos e pensamentos.
A definição consta no artigo Weekly change in mindfulness and perceived stress in a mindfulness-based stress reduction program, publicado em 2012 no Journal of Clinical Psychology.
O estudo também fez um levantamento da redução do estresse baseado na atenção plena.
Conheça os resultados obtidos pelos participantes do experimento:
- Aumentos significativos na atenção plena ocorreram na segunda semana do programa
- Melhorias significativas no estresse percebido não ocorreram até a semana 4.
- A extensão da mudança nas habilidades de atenção plena durante as primeiras três semanas previu a mudança no estresse percebido ao longo da intervenção.
Além disso, a atenção plena compreende três aspectos fundamentais: proposta, presença e aceitação.
Em primeiro lugar, ao realizar a meditação, é necessário aderir á proposta de focar a atenção em vez de deixar os pensamentos vagarem.
Em segundo lugar, é fundamental que estejamos atentos ao momento presente. Isso não significa ignorar as lembranças do passado ou preocupações com o futuro.
Pelo contrário. Durante a prática de mindfulness, acima de tudo, é necessário reconhecer que tais pensamentos se dão no momento presente.
Por fim, a prática envolve aceitar sem quaisquer julgamentos. Não existe certo ou errado. Tudo é percebido como algo que acontece.
Faça treinos de meditação sozinho ou em grupo
No estudo de Marina Xavier Carpena e Carolina Baptista Menezes, os estudantes passaram por treinos de meditação.
Durante a atividade, os participantes poderiam sentar em um colchonete de pernas cruzadas, ou em uma cadeira sem encostar as costas e com os pés bem apoiados no chão.
Além disso, independente do local onde estivessem, os participantes poderiam trocar de opção quando quisessem.
No caso de desconforto, podiam se movimentar, mas com discrição e silêncio para não perturbar os demais.
Abaixo é possível conhecer a estrutura de atividades dos encontros, que pode ser replicada por qualquer pessoa ou grupos interessados em melhorar seu estado mental:
- conversa em grupo envolvendo dúvidas, dificuldades, bem como relatos de experiências; informações e instruções para as práticas;
- a prática de exercícios preparatórios, que compreendiam breves alongamentos para preparar o corpo para a meditação formal (cerca de 5 minutos);
- execução de exercícios de respiração diafragmática (cerca de 5 minutos);
- realização da prática formal (meditação focada sentada e silenciosa);
- realização de variações de práticas meditativas (caminhada meditativa e comer meditativo);
- fechamento com mais um tempo para conversas e trocas de experiências.
O tempo de duração da atividade merece ser destacado. Isso porque a duração ora permaneceu igual ora foi aumentando pouco a pouco.
A prática de caminhada meditativa, por exemplo, ocorreu no terceiro e quarto encontro, com duração de 5 minutos e 10 minutos, respectivamente.
Por outro lado, o comer meditativo, realizado no quinto e sexto encontro, teve duração fixa de 10 minutos.
Aprenda a respirar durante a meditação
As orientações do estudo sobre como realizar os treinos envolveram também o ensino sobre respiração, inclusive controle de movimentos.
Os alunos foram instruídos, por exemplo, a expandir e retrair o abdômen na inspiração e expiração, respectivamente.
Também foram solicitados a prestar atenção e a ampliar a percepção dos movimentos abdominais de cada fase da respiração, tentando prolongar a exalação levemente.
Para a meditação, enfatizou-se que nenhum esforço particular deveria ser feito para respirar.
Apesar disso, uma orientação simples foi passada justamente para que os novatos em meditações conseguissem manter a atenção focada.
Em vez de mantras ou quaisquer recursos espiritualistas, os estudantes foram convidados a contar mentalmente cada expiração.Simples assim!
A contagem aconteceu assim: nos três primeiros encontros, os alunos contavam de 1 a 10. Já nos três últimos, faziam uma contagem regressiva de 100 até 1 (sempre um número por exalação).
Mas atenção! Quem perder a conta na hora de replicar a experiência precisa, necessariamente, recomeçar do início.
Quer saber mais? Conheça dicas sobre como aplicar o técnica mindfulness no seu dia a dia.