Muitos afirmam que o jornalismo está morrendo, pois, não lemos mais jornais impressos e as bancas de jornais e revistas, além de cada vez mais raras, vendem pouco. Na realidade, o que vemos acontecer com o jornalismo é a sua transformação. E uma das características dessa mudança é o jornalismo de dados.
A velocidade da informação e o suportes que a contém são as redes sociais, sites, TV digital, plataformas de streaming. Ou seja, a internet. Portanto, ao desenvolver novos suportes, a sociedade mudou a maneira de obter informação. Assim, teremos mudanças também no processo de produção de informações. E o ponto central na produção de notícias são os dados.
Com a transformação digital, estamos conectados e constantemente geramos dados por onde passamos na internet – os famosos rastros digitais. Tudo isso pode ser usado para investigar e contar histórias e engajar o público em larga escala.
Aqui, vamos te contar mais sobre jornalismo de dados e sobre como esse jornalismo está remodelando o mundo das notícias.
O que você verá neste artigo:
O que é o jornalismo de dados?
O jornalismo de dados utiliza grandes bases de dados para produzir notícias e reportagens. Assim, as informações estarão em dados numéricos e, pela análise desses dados, o jornalista chega à conclusões e temas de interesse do público.
Desse modo, o jornalismo de dados inverte o processo de notícias, que é propor um tema de investigação e depois buscar as informações. Na produção de notícias baseada em dados, os repórteres vão primeiro pesquisar e coletar dados e, a partir disso, identificarão conexões ou lacunas que valem a pena ser exploradas com mais profundidade. Assim, terão um tema para uma notícia, reportagem ou história.
Lembrando que, dentro do jornalismo, existe a especialidade jornalismo de dados, e que ainda hoje produzimos notícias da maneira habitual, em que primeiro é proposto um tema e depois os jornalistas correm atrás das informações. Entretanto, agora temos mais uma opção e possibilidade de encontrar histórias, por meio do jornalismo de dados.
E, acredite você, o jornalismo de dados é uma prática usada há muito tempo. Pois é, o que atualmente o jornalismo de dados traz são os novos dados em larga escala utilizando big data (grandes massas de dados) digital. Porém, seu uso não é de hoje.
Como surge o jornalismo de dados?
O uso de dados e estatísticas no jornalismo, para alguns estudiosos, teve início em 1850 com Florence Nightingale, enfermeira e a primeira mulher a fazer parte da Royal Statistical Society.
Mesmo não sendo jornalista, Florence conseguiu comprovar por meio de dados estatísticos que as mortes dos soldados britânicos na Guerra da Criméia foram causadas por infecção decorrentes de hospitais. Por meio dessa análise, Florence convenceu o parlamento britânico a criar normas de higiene.
Outro exemplo de jornalismo de dados foi a reportagem do Philadelphia Inquier, de 1975. Nesse caso, um jornalista foi contratado para fazer matérias a partir dos números do censo da cidade. E qual a diferença daquela época para hoje?
Primeiro, esse tipo de reportagem não era tão comum, porém, hoje temos acesso a uma quantidade de dados maior e mais dados são gerados por causa do uso da internet. Além disso, o desenvolvimento da tecnologia proporcionou que software e inteligência artificial ajudem na estruturação de dados.
Ainda assim, o termo jornalismo de dados não era utilizado para nomear esse tipo de matéria. Então, o que deu origem ao termo?
O início do termo
O termo vem do inglês Data-driven Journalism, inicialmente usado em 2009 para a produção de notícias nos Estados Unidos a partir de dados. O nome deu forma à especialidade e ao novo método de produzir reportagens e matérias.
Para muitos jornalistas, trabalhar com dados representa a democratização do seu uso por qualquer pessoa, dados que antes eram restritos aos governos e cientistas. Logo, a prática ajuda na alfabetização dos dados para a população no geral. Do mesmo modo, esses dados passam por meio de uma visualização compreensível por todos. Alguns exemplos são gráficos, infográficos e outros recursos multimídia.
O jornalismo de dados no Brasil
Um dos primeiros trabalhos de jornalismo de dados no Brasil foi o de Cláudio Weber Abramo, bacharel em Matemática e mestre em Filosofia. Entre os seus projetos de dados estão ‘As Claras’ e ‘Excelências’. Assim, a sua atuação foi tão importante nesse campo que foi criado, em 2019, um prêmio que leva seu nome.
Nesse sentido, o primeiro trabalho era uma plataforma que organizava e disponibilizava gastos nas eleições. Já o segundo, é uma base de dados online com informações de processos e do desempenho de parlamentares. Pioneiro e referência no jornalismo de dados e no combate à corrupção no Brasil, Abramo também foi um dos autores para a elaboração da Lei de Acesso à Informação (LAI) e um dos fundadores do Transparência Brasil.
A LAI é muito utilizada por jornalistas para apuração de histórias que utilizam dados de órgãos públicos na elaboração de reportagens. A Transparência Brasil é uma organização independente e autônoma que promove a transparência e o controle social do poder público. Uma das suas atividades é apontar e pedir esclarecimentos sobre dados e informações divulgadas pelos órgãos públicos.
Empresas que utilizam dados no jornalismo
Todos os trabalhos mencionados anteriormente abriram portas para que o jornalismo de dados fosse desenvolvido no Brasil. O jornal O Estadão, por exemplo, desde 2012 tem uma equipe especializada na produção de reportagens baseadas em dados.
O portal G1 tem o G1 dados, que, em 2018, ganhou o Data Journalism Awards com o projeto Monitor da Violência. O jornal digital Nexo utiliza dados e muitos gráficos interativos na construção das suas narrativas jornalísticas que, além de tudo, são muito didáticas.
O jornalismo de dados tem se tornado frequente em algumas empresas brasileiras, como:
- Metrópoles
- Jornal da Record
- Votex Media
- UOL
- The Intercept Brasil
- Colaboradados
- Datalab
- Filtro Fact-Checking
- Volt Data Lab
- TV Globo
- Globonews
- Estado de S. Paulo
- Folha de S. Paulo
O pesquisador Mathias Felipe de Lima mapeou 52 iniciativas pelo Brasil. Isso demonstra como esse campo está se desenvolvendo e como ainda pode avançar muito no país.
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