Contar histórias para transmitir conhecimento. Essa prática milenar está sendo redescoberta e adaptada à educação do século XXI. Com o storytelling, ou até digital storytelling (para quem prefere contar histórias no ambiente digital), o método ganhou um novo nome, mas continua encantando gerações.
E é parte do que se conhece hoje como “metodologias participativas” ou “metodologias ativas”. Esses termos descrevem processos que surgiram nas últimas décadas e que vão contra o modelo de ensino tradicional de ensino. Ao invés da escola como estamos acostumados, na qual o professor detém a informação e a transmite para o aluno, aqui ambos constroem juntos o conhecimento.
Com o storytelling, há a possibilidade do aluno e do professor construírem juntos um sentido para aquele processo de aprendizagem, que ganha um caráter autobiográfico. O conhecimento passa a fazer parte da identidade do aluno e integra a sua vida pessoal. E a técnica de contar histórias pode ainda ir além, proporcionando habilidades como a criticidade, a criatividade e a prática contextualizada.
No entanto, as narrativas não devem assumir o processo de ensinar, como apontam pesquisadores no estudo Uso da Storytelling para a construção e o compartilhamento do conhecimento na educação. Segundo os especialistas, elas devem colaborar para que o estudante possa “explicitar o seu entendimento sobre um conteúdo, e promover, com autonomia, uma análise da informação e agregá-la a um conhecimento pretérito, processando uma construção do conhecimento”.
Dessa forma, o processo de ensino a partir do storytelling, em especial no ambiente digital, está relacionado a uma nova concepção de estudante do século XXI, como lembram os autores. É um sujeito “que pensa, que é praticante cultural, que produz saberes e que compartilha opiniões, conteúdos e informações em rede”.
O que você verá neste artigo:
Mas, afinal, o que é storytelling?
“Storytelling” nada mais é que o termo em inglês para o ato de contar histórias. E essa é uma ação fundamental na educação, que também é um processo de comunicação. Em ambientes educativos, as ideias devem chegar aos estudantes.
Entre as técnicas mais conhecidas de storytelling, está a Jornada do Herói, desenvolvida pelo escritor Joseph Campbell no livro O herói de mil faces. Segundo o autor, muitas histórias fundamentais à humanidade seguem um padrão de estrutura narrativa. Ele é formado por três atos: a apresentação, a jornada e a mudança.
Muitos filmes de Hollywood e livros configurados entre os mais vendidos usam o modelo de apresentar uma situação vivida por um personagem (o tão conhecido Era uma vez…); a jornada que esse personagem percorre, geralmente causada por um conflito; e a mudança que essa aventura causa não só no ambiente externo ao personagem, mas também nas suas questões internas.
As técnicas para contar uma boa história, no entanto, não se limitam à Jornada do Herói de Campbell, e há outras questões a se considerar: o público-alvo, o ambiente, as emoções que aquela história vão causar…
Storytelling na educação
“Joãozinho tinha 5 maçãs, mas comeu 3. Com quantas maçãs ele ficou?”
Muitos já devem ter presenciado em alguma aula de matemática este famoso exercício de soma. Ele é um clássico de como o storytelling pode ser aplicado na educação de forma simples. A partir deste exemplo, é possível perceber como uma história pode aproximar o estudante de uma situação hipotética. Números podem parecer distantes, mas a história de Joãozinho traz a questão matemática para a vida real e prática.
O uso de histórias para ensinar é tão antigo quanto se possa rastrear. Afinal, a escola como a conhecemos hoje foi criada apenas no século XIX. Antes disso, histórias contadas ao pé da fogueira, contos populares e de tradição oral e fábulas com suas famosas morais, explícitas ou implícitas, eram as responsáveis por transmitir os valores de uma sociedade aos seus membros. Eram essas histórias que os instruíam sobre o que era ou não permitido fazer.
Com novas técnicas de aprendizagem no ambiente digital do século XIX e a busca por aproximar o estudante daquilo que lhe é ensinado, muitas escolas e universidades têm revisitado o poder das histórias com técnicas de storytelling. O digital storytelling, com recursos exclusivos ao ambiente digital, tem crescido ao ser aplicado às aulas à distância, em que as distrações são mais frequentes.
O digital storytelling e a educação do século XXI
Não vá pensar que as histórias só podem ser contadas em aulas presenciais, com o famoso olho-no-olho. Isso realmente faz diferença. Mas com a implementação de novas tecnologias em todos os ambientes digitais, o storytelling também se reinventou em diversas plataformas. Um bom filme ou um podcast podem ser boas ferramentas para o ensino à distância.
Para implementá-lo no processo de aprendizado, foi criado o que se denomina digital storytelling: um conjunto de técnicas de narração de histórias que envolvem um experiência de aprendizado; um processo de interação entre professor-aluno; a construção de um significado em conjunto.
E se os alunos criassem um vídeo sobre algum dos assuntos abordados em sala de aula? E se eles mesmos criassem uma narrativa, escrevessem um roteiro, discutissem entre si?
Práticas para a graduação
Deu até vontade de colocar o storytelling em prática no seu processo de aprendizado, não é mesmo? E existem diversas maneiras de se aproximar dessa técnica que contextualiza e dá sentido ao conteúdo que está sendo estudado.
Como aluno, você pode, por exemplo, consumir conteúdos relacionados ao storytelling. Da história à matemática, não é difícil encontrar livros, filmes e até podcasts que abordem diferentes áreas do conhecimento. Conteúdos assim podem ser facilmente encontrados na internet, ou até mesmo em bibliotecas.
Outra maneira de colocar isso em prática é conversar com seus colegas a respeito disso. Tragam histórias da vida pessoal de cada um, narrativas que tragam sentido para aquilo que vocês estão estudando.
Isso ajuda a aplicar a teoria ensinada na sala de aula à realidade. Afinal, cursos de graduação em geral são uma preparação para alguma carreira. Faz sentido que o que você aprenda possa ser utilizado de forma pragmática. Uma série de cálculos pode resultar na construção de um edifício; ou uma aula de anatomia, um procedimento em um paciente. Seja criativo!