Conhecer de onde viemos, nossa trajetória, o que fizemos, é parte do curso de História. E saber de tudo isso é fundamental para que possamos entender como as coisas chegaram até aqui, e para onde elas podem ir.
O termo vem do grego e significa pesquisa, e é uma das coisas que mais o historiador faz. Pesquisar nossas origens, ver vestígios, fotos, escritos antigos e estudar inscrições em pedras são só alguns exemplos.
E por que estudar história é tão importante? Digamos que ela faz parte da nossa vida. Sabe aquela curiosidade ‘de onde vieram os meus pais ou avós?’, por exemplo? Isso é História: a que eles contam ou deixam registrado e mostra como era a vida deles em tempos idos. Isso diz muito sobre como nós éramos e como era a vida naquela época.
No futuro, daqui a algumas décadas, seremos nós quem vamos contar aos nossos netos como foi sobreviver à pandemia do coronavírus. Isso também é História. A diferença é que, desta vez, estamos fazendo parte dela. Mas, no fim, é contar como algo aconteceu.
O que você verá neste artigo:
A narrativa na História
Há diferentes formas de se contar História, e acaba que usamos um pouco de cada para narrar acontecimentos. Esses tipos de história evoluíram ao longo do tempo, mas o objetivo sempre foi o de contar alguma ocorrência. Uma dessas formas é justamente a narrativa, uma das mais antigas.
Se levarmos em consideração que o papel é uma descoberta dos chineses, por volta do século 2 depois de Cristo (isso é um fato histórico), como se fazia para se registrar os acontecimentos antes disso? Por meio da narrativa. As pessoas contavam histórias da época dos seus pais que, por sua vez, contavam dos pais deles, e por aí vai.
O problema da narrativa é que, ao passar de uma pessoa para outra, muda também a interpretação. Assim, contar uma história não é sempre algo muito fiel à realidade. Quem já brincou de telefone sem fio sabe como é. Dessa forma, os registros orais, por mais preciosos que sejam, têm o problema do ponto de vista do narrador.
O ponto de vista da religião
A religiosidade também é responsável por várias passagens históricas com registros reais. A Bíblia é um exemplo. Ela conta, do ponto de vista dos hebreus e cristãos, como era a vida naqueles tempos. Os pergaminhos (peles de animais usadas para escrever) foram os avós do papel. Eram neles que os povos da Antiguidade relatavam os acontecimentos.
O império egípcio, que é fartamente documentado pelos hieróglifos (a escrita do Egito antigo), é citado na Bíblia. A passagem na qual os hebreus, que eram escravos deste povo, fugiram sob o comando de Moisés, é relatada no livro do Êxodo.
Assim, ocorrências como o dilúvio bíblico, que durou 40 dias e 40 noites segundo o livro do Gênesis, deixaram marcas na região do Oriente Médio, que são estudadas até hoje. A existência do Império Romano, que durou cinco séculos e ia de Portugal até a região da Turquia e Oriente Médio, também é relatada na Bíblia. Foi nessa época que nasceu Jesus Cristo, que conviveu com os imperadores, soldados e centuriões romanos.
Como a História é organizada
Com a enorme quantidade de registros históricos disponíveis, os historiadores dividiram a História em períodos: a Pré-História, a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.
Cada uma delas tem características próprias, e elas são classificadas desta forma devido a acontecimentos similares. Mudanças entre períodos se devem a ocorrências marcantes. No caso da Pré-História, se consideram os fatos antes da descoberta da escrita, cujo registro mais antigo data de 4 mil anos antes de Cristo, na Mesopotâmia. O que se sabe antes disso são inscrições feitas em pedras e descoberta de itens como pontas de flecha feitas de pedra e metal.
As primeiras pontas eram feitas de pedra lascada. Com o tempo, a técnica foi se aprimorando até que elas ganharam uma ponta mais polida. Com a descoberta do trabalho feito em metal, elas ganharam outro patamar de eficiência. Isso mostra o quanto o conhecimento humano evoluiu ao longo dos milênios. Em paralelo, os primeiros agrupamentos de pessoas se formaram (antes, esses grupos não tinham morada fixa). Isso possibilitou o surgimento de casas, domesticação de animais, plantações e organização política.
A escrita na História
Foi com o surgimento da escrita que a História ganhou uma aliada. Registros históricos feitos em pedra, pergaminho e papel, ao longo do tempo, se tornaram excelentes provas de como era a vida naqueles tempos.
Foi com a escrita que o período histórico mudou e passou a se chamar Idade Antiga. É uma época longa, que vai de 4 mil anos antes de Cristo até 476 depois de Cristo, com a queda do Império Romano do Ocidente. Nesse intervalo, tivemos o surgimento de várias civilizações, como a egípcia, a suméria, a fenícia, a grega e a romana.
Esse período reserva uma série de descobertas para a História. O surgimento da Filosofia, Medicina, do estudo de forma geral, além de tecnologias inovadoras como a construção de barcos fizeram parte da Idade Antiga. Tudo ia razoavelmente bem até a queda do Império Romano do Ocidente.
A História como testemunha
O tamanho enorme do Império Romano do Ocidente foi o principal responsável pelo seu declínio. Incapaz de tomar conta de um território vasto, e sem meios eficientes de comunicação, povos bárbaros começaram a tomar conta das partes mais distantes da capital, Roma.
Assim, quando Rômulo Augusto, o último imperador romano, foi deposto, o império foi fragmentado em uma série de reinos. Isso aconteceu em 476 d.C., e marca o início da Idade Média. Ela durou até 1453 d.C., e foi marcada pela existência de feudos. Eles eram como se fossem cidades, com um castelo ao centro e fechadas por grandes muralhas. A Igreja Católica tinha uma grande influência nessa parte da Europa.
Até fazia sentido ter essas regiões fechadas por grandes muralhas. Como não havia um poder central, o senhor feudal tinha que garantir a segurança do povo e de suas terras. Assim, ele a protegia com enormes estruturas de pedra, para evitar que os povos bárbaros pudessem tomá-las. Isso levou muitos séculos para começar a mudar. O surgimento das universidades, no final da Idade Média, foi um dos grandes propulsores da mudança de pensamento, mas não o único.
A queda de Constantinopla
Lembra que o Império Romano caiu, no final da Idade Antiga? Ele permaneceu mais ou menos vivo na região mais a oeste da Europa, onde fica a Turquia. Com o nome de Império Bizantino, ele continuou prosperando depois da queda dos romanos. Mas não por muito tempo.
A capital, Constantinopla, foi tomada pelos turcos otomanos em 1453, depois de ter sido cercada por 53 dias. Essa cidade era considerada estratégica por vários povos. Ela ficava no Mar Mediterrâneo, e era um ponto de conexão entre o Ocidente e Oriente. Seu porto era um dos mais movimentados do mundo. Por isso que o interesse de outras civilizações para ter o controle era grande. Esse é o ponto que a Idade Média vira Idade Moderna.
Com Constantinopla sob o poder dos otomanos, o comércio entre os dois continentes ficou interrompido. Assim, a Europa passou a investir em outros caminhos alternativos. O desenvolvimento de grandes navios, que suportassem as distâncias marítimas em mares desconhecidos, foi longe. Foi por essa época que aconteceram as grandes navegações. A América (e o Brasil) foram descobertos nesse período.
Descobertas que mudaram (mesmo) o mundo
Foi com a ida para oeste, pelo oceano Atlântico, que os europeus puderam fazer um caminho alternativo para levar e buscar seus produtos. Era um caminho bem mais longo, é verdade, mas era o que havia para a época.
Assim, Cristóvão Colombo aportou na ilha das Bahamas (na América Central), em 1492, tudo mudou. Novas terras, novas pessoas, nova paisagem e novo ambiente. Inclusive novos alimentos e recursos vegetais e minerais. Outros navegadores se aventuraram por estes mares até então nunca antes navegados, e um deles chegou aqui. Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro em 1500.
Mas não ficou por aí. Os portugueses também navegaram na região sul e contornaram a África, para chegar ao Oriente Médio. Depois de muitas dificuldades, como passar por regiões com pedras pontiagudas, que quase impediam a navegação, os portugueses conseguiram chegar até a Índia.
Os holandeses também se lançaram ao mar e chegaram à região que hoje conhecemos como Austrália. Mas essa descoberta é controversa. Há registros de navegadores espanhóis terem chegado lá antes dos holandeses, indo pelo oceano Pacífico. Mas, enquanto isso, a Europa fervia, especialmente na Itália e França. O resgate dos estudos gregos e romanos começaram a tomar corpo, no que foi chamado de Renascimento. E foi o que bastou para a mudança de período.
Revolução Francesa na História
A volta do empoderamento dos homens perante suas vidas – e não da religião, como era na Idade Média – mudou o jeito de pensar. As instituições tradicionais não faziam muito mais sentido para existir, e as universidades – que haviam surgido no final da Idade Média – tiveram um papel importante.
Estudiosos que se formavam desenvolveram ideias revolucionárias para a época. Não só eles, claro. Pessoas que se sentiram subjugadas pela monarquia da época queriam ter liberdade de poder trabalhar. Além disso, as disparidades sociais eram muito grandes, o que também inflava o senso de revolta.
Embora esse sentimento tivesse levado um certo tempo para surgir, foi razoavelmente rápida a queda da monarquia francesa, no que ficou conhecido como Revolução Francesa, em 1789. Os monarcas foram depostos (quando não mortos) e o governo do país passou a ser exercido por um plebeu. Esse movimento serviu de exemplo para muitas civilizações ao redor do mundo.
A independência de vários países que haviam sido colonizados pelos europeus (como o Brasil) começou a ficar cada vez mais evidente e inevitável. Os ideais da revolução – liberdade, igualdade e fraternidade – ecoavam à distância. E isso revolucionou a História, a ponto de ela ser o ponto de mudança de período, até chegarmos à Idade Contemporânea, na qual estamos hoje.
História de outros povos
Essa é a parte que aprendemos na escola. Mas há outras Histórias que merecem ser contadas, e elas aparecem com mais detalhes na faculdade de História. Como viviam os povos do continente africano antes da chegada dos europeus? Como foi a relação deles com os estrangeiros?
A América também tem uma História riquíssima com seus povos originários. Incas, Astecas e Maias foram as civilizações mais conhecidas, mas os povos indígenas brasileiros merecem destaque. A História oriental, na qual contamos o que acontecia na milenar cultura chinesa e japonesa, também. E a parte da Oceania, que foi só descoberta por último, mas tem uma História muito rica por parte dos habitantes originais.
Além disso, tem também a origem do próprio ser humano. Sua descendência dos macacos é fartamente documentada por meio de fósseis de milhões de anos. Com a tecnologia de hoje, é possível fazer estudos mais precisos que determinam a idade desses artefatos. Isso conta muito sobre como surgimos e evoluímos como espécie.
O papel do Brasil
Jamais devemos deixar de lado como nosso país surgiu e vem evoluindo ao longo dos anos. O curso de História tem disciplinas que estudam com profundidade os diferentes períodos pelos quais o Brasil passou. Assim, temos o Brasil Colonial, que começa no descobrimento, em 1500, e vai até 1822. Claro que antes disso, há o Brasil Pré-Colonial, com a História dos povos indígenas que chegaram primeiro aqui.
Quando estudamos essa parte da História, vemos o quanto nosso passado é rico. A cultura indígena influencia muito fortemente nossa vida até hoje, com seus conhecimentos medicinais, culinários e de convivência, com a chegada dos europeus, muita coisa mudou. O Brasil passou a ser colônia de exploração de recursos naturais, como o pau-brasil, ouro, cana e café. Muitos colonos vieram se estabelecer por aqui, ou por fugir da Europa, ou por procurar uma nova vida.
O Brasil Império surgiu com a independência de Portugal, no famoso 7 de setembro de 1822. Dom Pedro I rompeu relações com o país europeu e passou a ter controle total sobre o território. Esse período foi até 1889, quando foi declarada a República e deposto o imperador Dom Pedro II. E estamos nesse período de Brasil República até hoje. Muito do que somos hoje é devido a essa evolução cheia de sobressaltos da História brasileira.
O curso de História
Com toda essa viagem no tempo, o curso superior de História é oferecido em duas modalidades, a licenciatura e o bacharelado. A licenciatura forma professores que darão aulas nas redes públicas e privadas do ensino básico e médio. Já o de bacharelado forma pesquisadores que estudam registros históricos. A duração do curso varia entre três e quatro anos.
No caso da licenciatura, o graduando tem aulas de História Antiga, Média, Moderna e Contemporânea, além da Pré-História. Disciplinas que trazem a história brasileira também vem com detalhes. A diferença é a grade curricular, com matérias sobre o ensino. Aulas de Didática são fundamentais para mostrar ao futuro professor os métodos de ensino, bem como a realidade das escolas brasileiras. Estágios obrigatórios levam o graduando para as salas de aula, onde eles verão como é o dia a dia dos professores.
O aluno deve cumprir uma quantidade determinada de horas neste estágio, que é supervisionado por professores da instituição onde ele passará esse tempo. Ele pode ser tanto auxiliar do professor, quanto apenas assistir aula ou orientar alunos. O graduando faz um relatório, que conta como foi a experiência.
A pesquisa documental
O bacharelado em História forma pesquisadores que sabem lidar com documentos antigos, fotos, artefatos e inscrições. Ele saberá como lidar com recortes de jornais, por exemplo, para organizar uma narrativa de algum fato marcante.
Essa pesquisa documental tem sido bastante procurada por empresas, que buscam contar sua história. São as memórias organizacionais, nas quais as instituições reúnem fotos, textos, atas de reunião, além de entrevistas com personalidades marcantes, para reviver como foram os primórdios da empresa até os dias de hoje.
Historiadores sabem fazer esse levantamento de dados de maneira precisa, e elencar aqueles que mais têm a ver com o que a empresa busca. Não que essa pesquisa não possa ser feita pelos graduados que fizeram licenciatura, mas os bacharéis têm uma formação mais ampla nesse campo de trabalho.
Na grade curricular do bacharelado, já entram matérias como pesquisa do patrimônio histórico, historiografia, além de projetos de estudo que integram várias disciplinas. Trabalhos de pesquisa em História entram na lista.
Mercado de trabalho
O trabalho para os formados em História varia de acordo com o tipo de formação. Na licenciatura, os profissionais são professores, que já podem dar aulas nas redes pública e privada de ensino básico e médio. Aí vale ficar de olho nos concursos públicos, para ingressar na rede pública. Uma vez aprovado, o professor pode escolher qual escola vai trabalhar.
A demanda por professores na rede pública é alta, visto que muitos deles se aposentam todos os anos. Na rede privada, o profissional deve prestar atenção na abertura de processos seletivos. A licenciatura também permite ao graduado trabalhar em editoras de livros didáticos. O professor pode tanto elaborar uma nova obra ou revisar as obras atuais.
Já os bacharéis em História trabalham na preservação do patrimônio histórico, bem como em museus. São eles quem sabem a história dos artefatos em exposição, e elaboram textos explicativos para que os visitantes também possam viajar no tempo. Exposições mais completas contam com a curadoria deles.
Historiadores podem ser consultores também para o mundo das artes. Peças de teatro, novelas e filmes de época precisam ser fiéis ao que aconteceu. É aí que entra o conhecimento deste profissional.
Como falamos anteriormente, o historiador pode atuar na consultoria da elaboração de livros de memória organizacional das empresas. Em datas marcantes, como comemoração de aniversários, a companhia contrata o profissional para compilar os documentos históricos, como atas de reunião, fotos, recortes de jornais, entre outros. Ele faz a organização e elabora um roteiro. Um jornalista pode trabalhar em conjunto, para realizar entrevistas – se for o caso – e escrever o texto. Mas sempre com a orientação do historiador.
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