Antes de começar a falar sobre a inovação disruptiva em si, precisamos traçar um panorama geral do nosso cenário atual.
É de conhecimento geral que não só o Brasil, mas todo o mundo enfrenta uma grande crise econômica. A COVID-19 chegou e congelou grande parte das atividades, que só estão voltando (quase) ao normal atualmente. Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego fechou em 14,6% no trimestre encerrado em maio de 2021. Essa porcentagem representa mais de 14 milhões de pessoas desempregadas.
Mesmo assim, as empresas continuam afirmando que não conseguem contratar pois não encontram mão de obra qualificada. Isso se deve, em grande parte, ao sucateamento do ensino superior que vem acontecendo nos últimos anos. A pandemia ainda trouxe mais um agravante: a migração quase que imediata e obrigatória para o sistema online de ensino.
Nesse panorama de crise e fragilidade, a necessidade de inovação disruptiva se faz ainda mais presente. Mas, afinal de contas, o que é isso e como funciona e se aplica? É o que discutiremos no tópico a seguir.
O que você verá neste artigo:
O que é uma inovação disruptiva?
O termo “disruptivo” se refere a algo que causa rompimento, que interrompe o fluxo natural de alguma coisa. Sendo assim, a inovação disruptiva é uma novidade que rompe com os padrões atuais.
Para a geração mais nova, que já nasceu rodeada por celulares e tablets, a percepção de como a tecnologia avançou pode ser pequena. As novidades são incorporadas à nossa rotina de forma tão natural que passam despercebidas na maioria das vezes.
Sendo assim, a inovação disruptiva se caracteriza como em que uma tecnologia é substituída por uma solução inovadora e superior. Para serem percebidas pelo consumidor, elas precisam ser claramente mais acessíveis, simples e convenientes. Esses três fatores geram uma mudança no comportamento de consumo do público-alvo, causando uma espécie de revolução no mercado.
Toda vez que uma nova tecnologia surge, costumamos dizer que ela vai “engolir” a tecnologia anterior. Na maioria dos casos há uma diminuição do consumo, mas não o desaparecimento completo. A TV não substituiu o rádio, por exemplo. Nem os e-books tomaram definitivamente o lugar dos livros impressos. Mas a Netflix, por exemplo, ajudou a enterrar as antigas videolocadoras.
Outra característica marcante é a atenção aos detalhes e demandas que outras tecnologias não notaram ou não deram atenção. Assim, empresas pequenas conseguem brigar com empresas grandes e já consolidadas no mercado. Geralmente, ainda oferecem serviços melhores e mais baratos.
Confira abaixo outras características da inovação disruptiva:
– modelo de negócios totalmente diferente do concorrente;
– novos processos para compor a rotina da empresa;
– melhorias claramente visíveis para o consumidor.
Mas como tudo isso se aplica ao ensino superior?
A inovação disruptiva no Brasil
No Brasil, infelizmente, o que se vê nas instituições de ensino superior é a chamada inovação incremental. Ou seja, uma inovação focada na melhoria de processos, experiência e tecnologias, mas não no rompimento para gerar algo novo. Isso se deve ao fato, principalmente, de que as instituições de ensino estão muito distantes do mercado de trabalho.
Algumas iniciativas têm surgido no Brasil com o objetivo de focar na inovação disruptiva. Entre elas, podemos destacar:
– Associação Catarinense de Tecnologia (Acate): localizada em Florianópolis, a associação tem atraído mão de obra qualificada de todo o Brasil. Assim, começou a formar seu próprio ecossistema empreendedor, composto por várias empresas de tecnologia.
– Porto Digital: polo tecnológico localizado em Recife, já conta com mais de 300 empresas.
– Tecnopuc: parque científico e tecnológico localizado em Porto Alegre (RS). Seu principal objetivo é traçar uma conexão entre as instituições de ensino e o mercado de trabalho.
Como podemos ver, as iniciativas ainda são poucas e pequenas. O maior problema dessa falta de inovação disruptiva é que correm o risco de se tornarem obsoletas e serem engolidas pelas disrupção que vem do exterior.
Apesar disso, o povo brasileiro, reconhecido mundialmente como um dos mais criativos do mundo, ainda pode se recuperar. Começar a pensar em soluções de inovações disruptivas já é um primeiro e grande passo.
Cenário internacional
Quando pensamos em inovação disruptiva, o primeiro exemplo que nos vem à cabeça é o Vale do Silício. Localizado na região da Baía de São Francisco, nos Estados Unidos, é a maior concentração do empresas inovadoras do mundo.
Mas não podemos pensar apenas em programas de computador ou smartphones e aplicativos quando falamos em inovação disruptiva. Também é possível inovar quando falamos em processos industriais. E nesse campo, os destaques vão para países como Alemanha, Suíça, Inglaterra, Holanda e os asiáticos Coreia do Sul, Japão e China.
O que diferencia todos esses países do Brasil é, principalmente, o investimento na formação de mão de obra qualificada. Profissionais especializados são o recurso chave para gerar soluções que dão origem a inovações disruptivas.
Além disso, a maioria deles também possui políticas públicas de incentivo. Isso significa que muitos profissionais saem de grandes empresas com grandes ideias para abrir suas próprias startups. Todo esse processo movimenta a economia e gera empregos em várias áreas – movimento essencial para a saúde econômica do país.
Exemplos de inovação disruptiva no ensino superior
Apesar da teoria da inovação disruptiva estar circulando no mundo todo desde 2010, muitas universidades deram pouca atenção ao tema. O primeiro a falar sobre foi Clayton M. Christensen, professor de Administração da Universidade de Harvard e autor do livro O Dilema da Inovação.
Uma das únicas iniciativas nesse caminho, até hoje, é a formação das chamadas meta-universidades. Em um modelo inovador, duas ou mais universidades entram em sistema de cooperação e troca de conhecimentos. A Cidade Educacional da Fundação Qatar é um dos maiores exemplos desse tipo de inovação. Segundo Francisco Marmolejo, assessor da fundação, ele é um “interessante ecossistema de educação e inovação no qual os campi afiliados de algumas das melhores universidades dos Estados Unidos, França e Inglaterra convergem”.
Juntas, essas universidades podem oferecer cursos de excelência em diversas áreas de bacharelado e pós-graduação. Incluindo temas como relações internacionais, ciências da comunicação, medicina, administração de empresas e artes, bem como em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Além disso, a Fundação ainda funciona como uma grande guarda-chuva de instituições que beneficiam toda a comunidade. Dentre elas, podemos destacar:
– escolas que vão do pré-primário ao ensino médio;
– Biblioteca Nacional;
– Fundação Nacional de Ciência;
– Centro Médico “Sidra”;
– um moderno Parque de Ciência e Tecnologia.
Agora que você já conhece mais sobre o conceito, que novas ideias você teria para romper com as tecnologias atuais?